domingo, 24 de julho de 2011

"Que a vida como conhecemos seja apenas, no futuro, a letra de um samba triste"

Mais um texto do meu amigo Felipov. Retirado do Blog eu-lírico da tabacaria.

Um bom domingo.

Nairo Bentes



A vida vem se definindo. Ao meu redor, vejo a vida se definindo. Encaminhando-se. Vejo a vida se concretizar. A vida se movimentando. De tal modo, que, em alguma medida, isso me assusta. Pois, apenas, observo. E nada faço. Nada mais interventivo e efetivo. Tenho pensando muito esses tempos sobre questões da existência. E não sei o que fazer. Essa desorientação me atordoa. E a vida vai se definindo. E eu parado. Inerte e inútil. Saio nas ruas e sinto o pulsar dos transeuntes, dos carros, do barulho, do calor. O suor que escorre no meu rosto. O sol queimando. A sede. O arrependimento de ter saido de casa. As pessoas que esbarram e não pedem desculpa. Nem por favor e obrigado. É muito embrutecimento. As ruas fedem a medo e alegria. Ando com receio de ser assaltado e perder a vida. Vejo as pessoas lerem jornais nas páginas policiais. Não interessa a política econômica do governo e os seus reflexos no feijão de todo dia. A inflação. O aumento dos impostos. A violência é mais importante. Quantos morreram, facada, sangue. Bandido bom é bandido morto. É um espetáculo de carnificina, escrita e televisionada. A morte é audiência do dia. O dinheiro me falta. E eu, infelizmente, preciso dele. O aluguel atrasado, contas por pagar.  Ou pensas que para eu estar aqui pensando e reclamando é barato. É caro. E degrada o ambiente. Tudo é degradante, ofensivo e pernicioso. A politica é risível de tão escandalosamente absurda. Com os rendimentos de um deputado,  tiraríamos muitas crianças da miséria. Com o dinheiro da corrupção, aposentados, professores e todos aqueles que vivem de salário conseguiriam ter uma vida digna. Dignidade tornou-se algo de classe, apenas destinada aos abastados e bem nascidos. A justiça tornou-se uma mercadoria. A democracia agora é plutocrática. A cidadania é a obrigação de comparecer nas urnas, votar nos próximos usurpadores. A descrença me invade. Por conta da razão. O intelecto me faz pessimista. No entanto, tenho uma esperança. A esperança equilibrista de que o extraordinário torne-se cotidiano. Que a vida se defina pela fraternidade, liberdade e igualdade - reais, amplas e irrestritas, e não, abstratas e formais como fora na Revolução Francesa. Que a vida como conhecemos seja apenas, no futuro, a letra de um samba triste, que passou e não deixou saudade. Que passou. Que passará. Que se definirá. Vida futura nos te definiremos mais humana e plena.

(Felipov)

sábado, 23 de julho de 2011

De cinco anos pra cá, o que mudou?

Por Nairo Bentes

E então Professor, o que mudou nesses cinco anos desse post? A Revolução aconteceu? E os atores mudaram? Ou estás esperando que "Se Deus quiser, a educação neste país vai..." (C.S.)
Na última quarta-feira publiquei um texto no blog que foi escrito em 2006. Eu nem esperava, mas a principal reação de alguns leitores foi indagar se de lá pra cá alguma coisa mudou, ou melhor, o que mudou de lá pra cá, já que com certeza alguma coisa mudou.
O comentário em destaque acima, feito pelo meu amigo Carlos Sacramenta, apenas representa o que vários outros leitores perguntaram pelo msn. Importante frisar logo de início, que o texto – no qual simulo um diálogo com Deus – foi escrito em um momento de tomada de consciência. Ora,
Será necessária uma grande perspicácia para compreender que as ideias, os conceitos e as noções dos homens – numa palavra, sua consciência – se modificam com toda modificação sobrevinda em suas condições de vida, em suas relações sociais, em sua existência social? (MARX & ENGELS, 2009, p. 79)
Como pensa Marx, a tomada de consciência do homem pode libertá-lo da passividade, possibilitando uma ação revolucionária capaz de transformar a sociedade. (OLIVEIRA & FEREIRA, 2011). Eu, realmente, fui militante estudantil e participei de congresso da UNE desde 2003. Mas afirmo que somente em 2006 tomei consciência do meu papel e minha posição nas relações de classe.
O texto mostra também, sutilmente, uma ruptura com o dogmatismo religioso. Quando mostra que a partir daquele momento Deus se ausenta e não dá soluções para os problemas enfrentados e para as diferenças existentes entre as escolas das mulheres de branco (Privadas), as escolas públicas, e as Escolas azuis (Universidades). Como disseram Marx & Engels (2009), a religião é um dos tantos convencionalismos, atrás dos quais se escondem outros tantos interesses burgueses. Isso já responde uma das indagações.
Refletindo agora às outras indagações dos leitores, o que mudou sobre as afirmações que o texto traz?
Realmente o sistema escolar é viciante, existem cânceres como o exemplo que dei, onde os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem, e os professores fingem que acreditam. De lá pra cá, a revolução não aconteceu. Eu, sinceramente, não meço esforços para que a cada dia alunos e professores tomem consciência de que nós cumprimos um papel importante, capaz de mudar esse vício, de curar esse câncer.
De lá pra cá o que mudou? Acho que na época estava tão espantado e revoltado de como funcionava o sistema, que chegava a colocar a culpa integral nos meus colegas professores, como se eu não fizesse parte disso. O que mudou foi que agora enxergo os outros vários fatores que devem ser combatidos para acabar com esse vício, não só a tomada de consciência em si. Como por exemplo, a implantação de políticas públicas destinadas à educação, juventude e trabalhadores, nos seus mais diversos alcances: merenda escolar, valorização profissional, compreensão sobre o papel da escola, primeiro emprego, etc.

REFERÊNCIAS

MARX, K. ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. (Texto Integral). 2.ed. São Paulo: Editora Escala, 2009. (Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal). Tradução de: Antônio Carlos Braga.

BENTES, N. Eu aprendo a fingir... Blog do Prof. Nairo Bentes, 2011. Disponível em: .

OLIVEIRA, F. B. FERREIRA H. S. C. A. Desigualdade Social. 2011. Acesso em: 23 de jul. de 2011. Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/58631/1/DESIGUALDADE-SOCIAL/pagina1.html>.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Voltando de cara nova.

Voltando às postagens meus leitores, vocês percebem que o blog está cheio de novidades. O que vocês acharam?
O texto que publico hoje, neste retorno, foi escrito em março de 2006, cinco anos atrás.
Façam seus comentários e sigam o blog.
Divulguem para seus amigos!
Um abraço!
Nairo Bentes.

Eu aprendo a fingir...
Escrito em 18 de março de 2006.
Pelo Prof. Nairo Bentes.

– Eu não sei o que eu vou fazer meu Deus!!

– Por quê? O que está acontecendo?

– Não sei, eu não tô me sentindo bem. Quem falou isso?

– Como quem falou? Tu falaste com quem rapaz?!

– Desculpa Deus. Não, é porque eu me meti numa enrascada. Tô fudido, Deus!

– O que foi que tu fizeste desta vez seu irresponsável? Um filho?

– Calma! Quer dizer, eu vou te contar.

– Conta logo, me deixa ver se posso te ajudar.

– Há alguns anos atrás, acho que uns seis anos, eu não sabia o que eu queria da vida, só queria saber de curtição, me sentir bem. Fui pra lugares muito bacanas, a vida era muito firme.

– Sim! Eaí?

– Aí, o tempo foi passando e eu saí do colégio, aquele lugar que tem umas mulheres todas cobertas de branco que são donas do colégio. E dizem elas, estarem mais perto do Senhor.

– Prossiga, meu filho...

– Eu entrei numa outra escola, lá era pra eu ter uma profissão, porque eu estava ficando velho. Então tinha que saber fazer alguma coisa pra ganhar dinheiro. Conheci umas pessoas legais, que futuramente teriam a mesma profissão que eu...
Fiquei quatro anos frequentando essa escola, lá não tinha mulheres de branco. A escola das mulheres de branco era muito boa, mas tinha que pagar, essa escola de pessoas apaisanas era boa e de graça, e era só pra “adultos”...

– Tu estás enrolando muito...

–Tá. Passei quatro anos lá, a profissão que eu ganhei foi a de Professor, ou Educador. Eu tinha que dar aula, fazer que nem as pessoas faziam pra mim nas escolas de freiras e na outra escola azul. Fui dar aula numa escola pública. Lá, apesar de ser uma escola pra crianças também, não tinham mulheres de branco, até então minha maior vontade com a minha nova profissão era dar aula na escola das mulheres de branco...

– Sim, e qual é o seu problema...?

– Lá nessa escola pública, apesar dos professores também terem passado quatro anos dentro de uma escola azul ou de outra cor, eles somente fingiam que ensinavam, e o pior, os alunos fingiam que aprendiam. Os professores mesmo percebendo que o aluno não aprendia nada, fingiam que acreditavam que o aluno aprendia... Me vi preso nisso, estavam todos acostumados com esse sistema, ou eu obedecia, ou eu corria, ou darei início à uma revolução.
É isso que eu ia te falar. A nossa escola é uma merda e todo mundo vê. A culpa é de quem não faz nada, e de quem não consegue mudar, ou não tenta mudar.
A culpa é dos trotskistas, dos leninistas, dos direitistas de todos que não fazem nada. A culpa é minha se eu não fizer nada, precisamos de uma revolução e não de uma reforma. Uma revolução sem fins capitalistas e sem mercenários da educação, e também sem pseudo-comunistas. Sem revolucionários de internet.
Inicío aqui, meu sentimento de necessidade de revolução....
Deus? você ainda ta aí????

– ...................(Deus tá pensando)...................


– fim –