Certo dia, um menino branco foi para casa e disse a sua mãe:
"Fiz nova amizade na escola. Posso trazer meu amigo em casa para brincar comigo?"
"Qual é a cor dele?" perguntou a mãe.
"Não me lembro. Amanhã vou olhar para ver."
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGsmwvx39JP8LSO1ZgWgSjVYSSbXFJhGVILuvRSHfwIwvNFdGB5-pkWrdZz89Pv3d8VrCy2kuDqO-TItEmkkI9DDbyJLJVaOGPT0Hx3zB_iEEMr8l5DKNV84mEr_B49gd_nArf3FhX-fDK/s400/racismo+1.jpg)
Mudando um pouco de assunto dos últimos posts, muito políticos, não que este aqui não seja. Digo em termos de política nacional. Futuramente discuto o que viria a ser política aqui.
Em recente discussão com o Grupo de Pesquisa sobre Formação de Professores e Relações Raciais da Universidade Federal do Pará do qual faço parte, surgiu-me uma reflexão de como tratar a questão racial brasileira no enfoque sobre o racismo. Reflexões surgem a todo momento, no dia do encontro do Grupo, um ponto de discussão que surgiu foi: devemos ter como bandeira o anti-racismo ou anti-racistas?
É claro que o Brasil é um país racista, nasceu assim.
Em pesquisa divulgada no site
http://www.dialogoscontraoracismo.org.br/ tem-se um banner que expressa:
Você acredita que existe racismo no Brasil?
87% dos brasileiros reconhecem que há racismo no Brasil.
Curiosamente, somente 4% dos entrevistados reconhecem que são racistas.
Existe racismo sem racistas?
Agora, existem racistas no Brasil? Claro que sim. Mas de tal forma que ninguém vai bater no peito e dizer: “Eu sou racista!”.
Hoje, por acaso observei uma história, uma conversa. Estavam falando de pais, mães, filhos, filhas, brancos, negros. E eis que surge a frase: “A Fulana, ela é morena, mais a filha dela é loiríssima a menina, é linda, muito bonita”.
Imagine o que acontece se uma criança escutar essa frase, que conceitos ela vai criar e reproduzir?
O sujeito que proferiu esta frase é racista? Pode ser ou não, mas antes de analisar isso (...), a frase proferida com certeza tem um fundo racista e reproduz estereótipos e preconceitos que ajudam o Racismo, o Preconceito e a Discriminação a se perpetuar. Deve-se declarar guerra contra a pessoa que disse esta frase? Isso só criaria um divisionismo.
Quem disse isso foi criado numa sociedade em que o pensamento racista, e a hierarquia de raças, sempre imperou. E aos poucos se modificou e se perpetuou, e por isso torna-se difícil de eliminar.
O conceito de beleza sempre foi associado ao branco, ao claro, ao contrário dos conceitos de negro, preto. A nossas rainhas são todas loiras.
A luta deve-se centrar na eliminação das pontes de reprodução do racismo, evitar que ele se reproduza na escola, por meio do currículo de história e outras disciplinas, evitar que a mídia sirva apenas a uma raça ou etnia. Eliminar da Cultura brasileira piadas que denigram a imagem do negro. O nosso próprio vocabulário é racista, denigram vem de denegrir, denegrir significa tornar negro. Então, a cultura brasileira tem elementos essencialmente racistas. Não é apontando racistas que acabaremos com o racismo. O racismo é um grande opositor da Igualdade racial.
A Luta deve ser contra o racismo dos racistas, evitar que passem isso pro seus filhos, mesmo que inconscientemente, evitar que padronizações e estereótipos criem imagens discriminatórias da sociedade. Ouvi uma vez e repito “temos que cuidar para que as nossas crianças não sejam racistas, porque os velhos, já são, e destes só se pode conseguir a tolerância”, é assim que se acaba com o racismo.
Nairo Bentes