Esse verso de Chico, em Apesar de você (1970), hoje expressa qual o sentimento da categoria de trabalhadores em educação no Estado do Pará.
Resumindo, fizemos uma greve de 73 dias corridos em 2015, com a qual o Governo Jatene - além de deixar as escolas caindo aos pedaços do jeito que estão - desconta desde junho os dias parados pela categoria dos trabalhadores que aderiram a greve. Segundo o Governo, o desconto total a ser colocado na folha dos trabalhadores em Educação chegaria a 45 milhões.Também segundo o Governo, já foram descontados 16 milhões, faltando 29 milhões. E aí, vem a proposta indecente do Governo com um tom de "Pegar ou largar", na voz de Alice Viana.
O Governo deve para a categoria, segundo ele próprio, o montante de 100 milhões de reais. Na proposta do governo a matemática é simples.
- Se vocês ainda nos devem 29 milhões, que vocês vão pagar compulsoriamente até junho de 2016, e nós lhes devemos 100 milhões, que não temos perspectivas de lhes pagar. Descontamos uma dívida da outra.
Os trabalhadores deixariam de "dever" para o Governo, e o Governo continua devendo para os trabalhadores.
O julgamento de abusividade da greve 2015 seria suspenso, pois, logicamente, a categoria aceitando descontar uma "dívida" da outra, aceita politicamente os descontos e, tacitamente, assume a greve como abusiva.
Ganhos não tem, recuo do governo também não. O Governo aparece e prepondera enquanto opressor, "que inventou a tristeza" e ainda posa de bonzinho, querendo parecer que está tendo "a fineza de desinventar".
Porém, não! Está massacrando e humilhando. Fazendo a categoria, que reconhecidamente mais faz enfrentamento aos Governos neste Estado, baixar a cabeça...
"falando de lado, e olhando pro chão, viu!"
Infelizmente é isso que tenho a escrever, mesmo ponderando todos os argumentos dos companheiros trabalhadores a favor do acordo, "de que a categoria está cansada dos descontos", de que isso "representa um recuo do governo", na assembleia, o recado foi:
"Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos"
(Desalento, Chico e Vinícius, 1970)
E vem na memória, a fala daquele dirigente:
"Esse Governo é forte"
Esse Governo é poderoso!"
(Greve 2015)
"E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a deus por minha gente"
(Gente humilde, Chico e Vinicius, 1969)
E a nossa luta, que sonha em ser classista, se perde, e é cada vez mais economicista.
Belém, 25 de novembro de 2015.
Nairo Bentes