segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Reafirmando opinião sobre Cotas.

A questão da reserva de vagas para negros, índios ou carentes em geral, é um debate que desperta muita atenção, e de início de conversa, todos tendem a perguntar: “mas porque cotas?”. Entrei no CEFET-PA em abril de 2001, no Curso de Licenciatura em Matemática, em 2003 fui ao 48º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), cujo tema era “Reforma Universitária”, o debate sobre cotas pouco entrou em destaque em meus círculos de debates, também naquela ocasião estava eu ingressando no movimento estudantil e no mundo de debates. Outras coisas me chamaram a atenção, entre elas, a cidade de Goiânia, mas enfim aquele congresso foi de suma importância para mim, a partir dali comecei a assumir mais responsabilidades no Diretório Central dos Estudantes do CEFET-PA, até tornar-me presidente desta entidade. Em 2005 fui para o Congresso de Entidades Gerais da UNE, junto com outras lideranças estudantis do Pará, da UFPA, da UEPA, do CESUPA e com o camarada Rodrigo Moraes, então vice-norte da UNE. Tal Congresso foi realizado em São Paulo-SP, com um frio danado que chegava a 4°C, muito vinho pra esquentar, e no meio de uma conversa informal com lideranças de Vitória-SC, Natal-RN e outras cidades, surgiu o assunto “cotas”e a opinião que expressei foi a mesma que expressava por mesas e corredores do CEFET-PA ou da UEPA: “Como vamos colocar alunos despreparados na Universidade? O ensino básico público é muito ruim, ele deve melhorar. Colocando esses alunos na Universidade vamos tender a piorá-la, e a questão de ser negro, cara! O quê isso tem haver? A minha avó era negra? Quem é negro no Brasil?” As lideranças que ali estavam nada declararam contra os meus argumentos ou indagações, apenas comigo concordaram, acho que tão imaturos quanto eu, pois nem fortalecer meus argumentos contra cotas fortaleceram. Aquele congresso foi importante, participei mais ativamente dos debates, e entre vinhos e haxixes para combater o frio, cheguei vivo a Belém. Um pouco mais maduro para me expressar sempre me coloquei contra a questão de cotas para alunos de escolas públicas, considerando que nesta análise realmente o investimento deve ser feito na educação infantil, fundamental e média. Em novembro ou dezembro de 2005 enviei um trabalho para o 5º Congresso Internacional de Educação em Havana, Cuba, para minha surpresa e felicidade o trabalho foi aprovado, pena que não tive dinheiro nem apoio para ir, o tema do congresso era algo sobre a universalização do ensino superior, o meu trabalho teve como tema Sistema de cotas: Democratização do Ensino Superior?”, e nele eu fiz sérias críticas à escola pública e aos profissionais que nela trabalham, normal, eu estava indignado, acabará de ingressar como professor em uma escola pública, e me posicionei contra cotas Sociais, o trabalho discursava somente a respeito de cotas Sociais, sem comentar cotas Raciais, não me sentia preparado para discursar contra, nem a favor. Em março de 2006 em um debate na comunidade da UJS/PARÀ no orkut, coloquei “Não discutiremos a questão das raças, pois tal argumento tem todo seu caráter histórico”, o debate foi com Rodrigo Moraes, que defendeu cotas, atual presidente da União da Juventude Socialista no Pará. Naquele momento entendia um pouco mais a questão dos negros, mas não poderia ser a favor de uma confissão de incompetência da escola pública. Um ano antes disso participei da Comissão elaboradora do Estatuto do CEFET-PA e, perguntado sobre a possibilidade de tentar incluir um tópico sobre cotas neste estatuto, disse que não tentaria por que não era a favor de tal medida, hoje luto por isso. Em frente a dados que mostram que os negros são 47% da população brasileira, e são 70% da população pobre no Brasil, apenas 20% dos universitários no Brasil são negros, no Senado nacional 98% são brancos, e outros tantos dados que mostram a desigualdade racial existente no Brasil, pior que essa desigualdade, somente o racismo e o preconceito racial que existe neste País, tais ideologias doentes como o racismo camuflado existente na população brasileira, só devem acabar quando a nossa distribuição racial nos postos de oportunidades neste país forem equilibradas, e o sistema de cotas visa acelerar esse processo de igualdade, não pode se esperar que o ensino básico melhore de uma hora para outra, e igualdade seja alcançada, junto com os investimentos na educação básica devemos agir com outras políticas afirmativas, como por exemplo o sistema de cotas, que na minha opinião, agora, não seria “ignorar nossa mediocridade”, mas sim assumir o racismo ideológico no Brasil, e tentar mudar isso, destacando-se ainda que as cotas estendam-se em parte aos brancos pobres como forma de não criar justificativas para maiores demonstrações de preconceito. Creio não ter conseguido expressar toda minha opinião nesse texto, mas aos poucos fazemos isso, e esta era uma resposta que eu estava devendo em frente as outras vezes que expressei minha opinião.
Recomendações de Leitura: A favor:
Educação como Prática da diferença (Anete Abramowicz) Editora Autores Associados 2006. Inclusão Étnica e Racial no Brasil: A questão das cotas no Ensino Superior. (José Jorge Carvalho) Attar Editorial 2006. Contra:
As cotas na universidade Pública Brasileira: Será esse o caminho? (Carlos da Fonseca Brandão) Editora Autores Associados 2005. Não somos Racistas: Uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor. (Ali Kamel) Editora Nova Fronteira 2006. Livros para baixar na internet no Link: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=30580454&tid=2539753896743704448

10 comentários:

Unknown disse...

é interessante como o sistema coloca os providos de potencial consumidor em um pedestal, vítima de todos os abusos e insanidades da ralé que é pobre por que quer, que rouba por que quer, que mata por que quer, que não estuda por que quer...
vítimas de insanidades como colocar na marra gente desqualificada na universidade, lugar de pessoas nobres e vitoriosas..
que tipo de médico vai ser uma pessoa dessas?
deviam eliminar todos eles né? explodir, algo assim.. fácil de resolver esse problema!
um viva aos muros cada vez mais altos, a cerca elétrica, ao condomínios fechados, aos carros blindados, à segregação, à marginalização,`a exploração..
viva!

Nairo Bentes; disse...

O Link certo sobre o debate na comunidade da Ujs é esse http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=2886220&tid=2455006594196477824&kw=lavada

Rodrigo Moraes disse...

Grande Nairo, já tivemos acalorados debates sobre cotas...
eu reafirmo minha opnião sobre cotas:SOU A FAVOR...
Creio que é preciso dar oportunidade a população masi caraente o acesso a Universidade , aliados ao regime de cota projetos como o PROUNI , Fundeb,E reforma universitária tem o objetivo de conquistar uma Educação diferente , uma educação mais popular.
Porém isso levará algumas décadas, e é preciso JÁ ter medidas que garantam a classe sempres excluida o acesso a UNiversidade, e isso é a cotas...
ABRAÇOS

Cássio Belizário disse...

Para ser contra ou a favor da concessão de cotas nas Universidades Públicas a situação implica em um verdadeiro conhecimento de causa como falou o Sr. Nairo Bentes, e para a expressão de uma opinião concisa e sem interferência abusiva do sentimentalismo que a causa pode trazer ou não, podendo ser afirmativo ou repulsivo pelos que recebem ou pelos que observão estes receber, o caminho talvez fosse ouvir se ambas as partes estão contentes ou entendem o gesto como justiça ou maneiras ainda maiores de segregação, pois a entrada na Universidade por meio das cotas pode representar uma segregação no mercado de trabalho, deixando a cota de fazer o seu papel estrito de inclusão. Para ilustrar tal situação a exemplifico por meio de uma seleção que dois jovens com a mesma idade a mesma altura e chegam a uma empresa para requerer uma vaga de Administrador Junior. Ambos também passaram no mesmo ano do vestibular da mesma Universidade X, se formaram juntos também, cursando em seguida as mesmas pós-graduações. Currículos perfeitamentes iguais, com uma história de origem humilde semelhante, mas um destes ingressou na Universidade por meio das cotas e o outro não, ao reparar nisto o gerente da empresa que avaliava os currículos e encontrava-se em um momento de angústia para selecionar somente um dos dois decretou o fim de sua dúvida. Escolheu pelo que ingressou através do vestibular sem cotas. O que quero aqui é afirmar o compromisso que cada um tem em avaliar a situação de perto. Tenho a certeza de que as medidas paliativas são de muita importância para remediar problemas emergenciais, mas somente insistir nisto e não se propor e implementar programas políticos que proporcionem uma mudança de fato a sociedade é incorrer no erro, e ao invés de ajudar a diminuir o vale das diferenças entre as classes sociais estaremos jogando e tirando areia ao mesmo tempo deste abismo.

Atenciosamente.

Cássio Amâncio Belizário.

Anônimo disse...

concordo contigo Nairo, eu também já fui contra cotas e pensava como tantos que sua "cor" não definia se tens ou não a chance de entrar em uma universidade pensava também como seria a entrada de pessoas "desqualificadas" em nossas universidades,hoje percebo o quando estava desinformada e errada sobre o assunto,cota para negros é uma necessidade assim como o melhoramento da educação de base,mas por mais que a educação de base melhore(qm dera),não podemos esquecer dos muitos estudantes que não tiveram a sorte de ter uma "boa educação".
Me lembro uma vez que estava na praça da republica e fiz-me essa a pergunta:"para quer cotas para negros?" e me pus a analisar a sociedade ao meu redor, lembrei-me que em toda minha vida, só me consultei uma vez com um medico negro.Olhei para as pessoas que varriam a rua a quais 90% eram negros,então pensei não é necessario?eles têem a mesma oportunidades?
Infelizmente nosso pais, se camufla o racismo são raros os que se demoninam racista...Lembro-me de uma vez que voltava da uepa,vinham 4 garotos negors na minha frente a direita e um branco a esquerda, um carro de policia estava fazendo "revista" e quem eles pararam?os negros.Não há racismo no pais?!
cotas já!

por Suellainy Vieira

Mauricio Silva disse...

Devido a existencia de uma dívida historico-social para com milhares de negros e seus descendentes, a qual a sociedade brasileira deve arcar e indenizar sob pena de imortalizar o sofrimento de milhares pessoas, sou absolutamente A FAVOR do regime de cotas.

Anônimo disse...

Qdo falamos do sistema de contas. sempre gera este debate..
Ao meu modo de ver fazer politica de contas para negros, alunos e escola publica nao e a solução. concordo com o nairo qdo ele diz "o investimento deve ser feito na educação infantil, fundamental e média." acredito eu que esta a melhor soluçao para esta discurção que desta forma estamos gerando um problema social.onde estaremos gerando uma segregraçao social, e necessario tem mais investimentos na area da educação so assim poderemos acabar com este pequenos conflitos e nao cria sistemas de contas.Segregrando grupos..Ja que na nossa propria constituição fala que educação e para todos. E que somos todo iguais..Por que sistema de contas?? Não adianta criar sistemas de contas se muitos alunos abandonos suas sala de aula por condiçoes de se manter na mesma. acredito que deveria ser feito um projeto de assistencia estudandil para ajudar a permanecia dos alunos em sala de aula..
Daniele Garcia

Nairo Bentes; disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nairo Bentes; disse...

Criar segregação Dani???
a segregação já existe e é enorme!
recomendo o artigo
DESIGUALDADE RACIAL NO BRASIL: EVOLUÇÃO DAS CONDIÇÕES DE VIDA NA DÉCADA DE 90*

ARTIGO NO LINK: http://cdi.mecon.gov.ar/biblio/docelec/MU2392.pdf

"O pertencimento racial tem importância significativa na estruturação das
desigualdades sociais e econômicas no Brasil. O aceite dessa tese, apesar de ainda
limitado, tem crescido no interior da sociedade civil, sobretudo a partir dos anos
80, com o fortalecimento do Movimento Negro e a produção acadêmica de
diagnósticos sociais sobre as desigualdades raciais. Este texto pretende apresentar
um mapeamento das condições de vida da população brasileira nos anos 90,
privilegiando o recorte racial de forma a servir como mais uma contribuição ao
diagnóstico das desigualdades raciais no Brasil."

Anônimo disse...

e verdade que ja existe a segregação mas vamos aprofundar mais..
vou da uma lida nos artigos q ue voce ta m indicando..
e dpois conversamos
abraços
Daniele Garcia