domingo, 28 de junho de 2009
“Ei! São Pedro! Cadê o Menino Jesus?!”
domingo, 7 de junho de 2009
CARTA ABERTA À COMUNIDADE
segunda-feira, 1 de junho de 2009
“Muitas pessoas Brancas” ²
Dia 29 de março de 2009, oportunidade de dialogar em família...fui ao idolatrado e excludente Manjar das Garças. “Tá podendo hein!?” É, graças a Deus! Opa! deus? opa! Deus não existe! "Graças a deus!" é um vício de linguagem. Não to podendo, mas de vez em quando tem que variar, fui com os meus pais e uma irmã.
Já ta dizendo que Deus não existe. Que maneira de começar um texto, deixa deus pra lá. Chegando ao local, alta qualidade, pessoas esperam fora do salão em fila para almoçar no salão refrigerado, porém na varanda é melhor, e tinham várias mesas vagas. Nem entramos no salão, indo por fora, sentamos, conversando, tomando chopp, conversando, tomando chopp. Entrei no salão para pegar um prato de comida para minha mãe... Quando entrei no salão, com meu bermudão e minha sandália, só a alta sociedade, pessoas segurando o talher com a ponta dos dedos e olhando uns para os outros por cima do nariz, como se o nariz fosse o indicativo de quem se pode olhar, e quem não se pode, observei-os rapidamente e ignorei-os, e retornei pra minha mesa na varanda, sentei. Quando cheguei me perguntaram logo “eaí?” Respondi: Coisa fina! “Coisa fina é? Hehe!” Eu disse: É... Muitas Pessoas Brancas... Recebi uma risada de volta: “hehehe...” Então minha mãe que só ouvia falou: “Que? O que foi que ele disse? Disse: Muitas pessoas brancas... - “muitas pessoas brancas? Só tu mesmo.” Um pequeno diálogo que serviu como o ponta-pé inicial para uma discussão e reflexão em família, há tempos queria tal oportunidade. Mas como era um almoço, e não um debate, depois tudo se dispersa, altos papos, conversas, casamentos, chopps, contemplando a baía do guajará, música boa... Então minha irmã levantou-se e disse: “Vou pegar alguma coisa pra comer...”Quando ela voltou, indaguei-a logo: “Eaí? muita frescura né? Hehe” Minha mãe curiosa também perguntou: Sim, conte, como foi? Eis que minha irmã disse, pra descontrair, mas já que concordando “- 'muitas pessoas brancas' como o disse o Nairo...” Eu ri internamente pensando, lá vem polêmica. E repeti: "É...Muitas pessoas brancas..." Por alguns instantes ficou um silêncio sobre a mesa, então eu aproveitei pra falar: “- Mas é sério, esse ambiente aqui retrata uma desigualdade social da sociedade brasileira, uma desigualdade não só social, que é clara, mas uma desigualdade social com características raciais, uma desigualdade racial. É só fazer uma pequena observação, quais pessoas negras vocês viram aqui? Um garçom, e um rapaz da limpeza que ta ali embaixo, que vocês nem viram. Um silêncio ainda maior aconteceu. E minha irmã então disse: “mas eu vi uma senhora morena lá dentro”. Continuei falando: É... Mínimo, uma ou duas. Olha no geral. A sociedade tem características desiguais, e isso faz gerarem-se preconceitos, racismo, discriminação e mais desigualdades... Então minha mãe falou: Pois é, eu considero que eu não tenha preconceito. Trato todo mundo igual. Procuro não fazer diferença. Eu não tenho preconceito. Não vou contrariar minha mãe né, continuei: Sim! Com certeza. Falando de racismo e preconceito, existe uma diferença importante para análise do Brasil e dos Estados Unidos. Nos Estados Unidos o racismo é declarado, todos assumem e falam: "eu não gosto de preto". Em condomínios fechados, em bairros de brancos; sim, porque lá existem bairros de brancos e bairros de negros, nestes condomínios fechados em bairros de brancos, não se vendem propriedades pra famílias negras de classe alta, para não desvalorizar as demais casas do condomínio. No Brasil não, as pessoas se dizem não ser racistas ou preconceituosas, mas em pequenas atitudes agem com discriminação, você pode não se achar racista, mas você vive numa sociedade que tem características desiguais. A sociedade brasileira é formada de maneira desigual, a maioria das pessoas que vivem em situação de pobreza, são negras, isso é uma característica da sociedade brasileira, faz parte do conceito dela, acarretando que a maioria das pessoas que acabam em situações de violência e roubo sejam da camada mais pobre da sociedade, e negras, e isso faz as pessoas criarem estereótipos do tipo: preto é burro! Preto é ladrão! Mas a culpa é de quem? As pessoas pensam, ou agem, assim porque a sociedade é formada desse jeito, esses são os pré-conceitos... As pessoas têm preconceito sim! Vivemos numa sociedade preconceituosa, não só racialmente, existe um preconceito social, de cor, e de raça. Vivemos numa sociedade racista, então mesmo que você diga: "não sou racista", você é! Por que a sociedade faz você assim. Então, o que temos que lutar é pela mudança da formação dessa sociedade. Esses conceitos e pré-conceitos de que falei, são fruto de uma sociedade desigual e segregada, então pra eliminar essa característica de ser racista e preconceituosa da sociedade, temos que modificar a sua composição, sua formação, aí entram as políticas de inclusão, políticas de ação afirmativa, o sistema de cotas na Universidade, e até os programas de auxílio do Governo Federal como as bolsas-família e escola, elas tem o papel de proporcionar à uma camada da sociedade a possibilidade de mobilidade social. Não visam acabar com a desigualdade social, mas acabar com a característica racial da desigualdade social. A desigualdade Social é um instrumento do Capitalismo, acabar com ela é difícil, só se conseguirmos implantar o Socialismo, o Comunismo, porém esse é um outro debate, mais longo. Viva o Socialismo! Então, o objetivo das políticas afirmativas é acabar com a característica racial da desigualdade social, permitindo que a sociedade seja menos segregada e menos desigual racialmente, diminuindo assim os conceitos e preconceitos que geram e reproduzem o racismo e as discriminações.
Então minha mãe disse: Sim, eu entendo, mas eu vou falar uma coisa agora, que eu sei que tu não concordas... Pensei: O que já que minha mãe vai falar e sabe que eu não concordo? Ela disse: Eu acho que só se consegue no mundo... Uma das maneiras de melhor fazer o bem... É através do evangelho... Faz-nos ajudar o próximo. Surpreendi-me, e voltando a fala em deus: É... Não vou lhe questionar muito, porém eu acredito que as religiões são instrumentos de dominação, a maioria das pessoas que tem muita fé em Jesus, deus, ou religiões são pessoas pobres, que tem naquilo a única salvação, e se acomodam a não lutar por direitos, acreditando que aquilo ali foi Deus quem reservou. Como posso acreditar que tudo que eu consegui foi por que Deus me ajudou, me deu, e alguém que mora na periferia, na favela, ou na rua, não consegue as coisas porque deus não ajudou, ou porque não tem fé, se eles têm mais fé que eu, ou melhor, se eles é quem tem fé em Deus... Eu nasci com privilégios, nasci com o mínimo que me permita buscar mais coisas. Quem nasce sem condições, sem perspectivas, tem que esperar deus ajudar? Da mesma maneira que tem gente que segue o evangelho que faz o bem, existem muitos que estão só para fazer da fé dos outros a sua fonte de riquezas...
Então ela disse: Sim. Concordo... Mas muita coisa se consegue pela fé... tu não achas? A fé, o pensamento positivo, ajuda as pessoas a conquistarem as coisas... Sim, isto é outro fator. Pensamento positivo vale, mas a quem adianta pensar positivo e não ter oportunidades? Ou ter condições de acesso a estudo, ou à estrutura social mínima? Ou pensar que a única solução é ter fé, a quem adianta? (fim de conversa) Saindo da mesa de bar e vindo para o espaço acadêmico, ou científico.
Falando de acesso a estudo, acesso à Educação, de acordo com a síntese dos indicadores sociais do IBGE de 2008, observando a distribuição por cor ou raça da população que freqüenta a escola com idades entre 18 e 24 anos, tem-se que, enquanto o percentual de brancos entre os estudantes de 18 a 24 anos de idade no nível superior era de 57,9%, o de pretos e pardos alcançava cerca de 25%, evidenciando a enorme diferença de acesso e permanência dos grupos raciais neste nível de estudo. (Figura 1).
Eu não vou contar aqui toda a história da desigualdade brasileira, desde a invasão do Brasil, passando pela colonização, proibição oficial de estudar, fim da escravidão, início de uma nova exclusão, exclusão do mercado de trabalho, Brasil império, imigração européia, processo de tentativa de branqueamento da população nacional, período de implantação ideológica do racismo científico, democracia racial, esquecimento da cor ou raça nos censos demográficos realizados... Enfim, quero analisar a questão atual, o produto, a desigualdade racial e a reprodução do racismo. O produto de toda essa exclusão, em termos de Educação, observa-se no gráfico abaixo. Figura 1 Distribuição dos estudantes de 18 a 24 anos ou mais de idade, por cor ou raça, segundo o nível de ensino frequentado - Brasil - 2007
Fonte: Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE - 2008
A faixa etária de 18 a 24 anos é a que normalmente estaria freqüentando a faculdade, mas o que observa-se é que entre os declarados pretos e pardos, apenas 27,9% freqüenta cursinho pré-vestibular ou já está no ensino superior, enquanto 61,7% dos declarados brancos freqüenta cursinho pré-vestibular ou já está no nível superior.
A faixa etária de pessoas que em condições normais, digo, com oportunidades iguais de acesso e permanência – igualdade de direitos? – estariam no ensino fundamental é de até 14 anos. Porém, observa-se que 20,8% dos pretos e pardos de 18 a 24 anos, ainda estão no ensino fundamental, ao passo que apenas 8,5% dos brancos estão neste nível de ensino.
As conseqüências destas desigualdades educacionais, o produto do qual falei, se refletem nas diferenças do rendimento médio dos negros, e dos brancos. O gráfico abaixo detalha o rendimento médio mensal, em salários mínimos, das pessoas com 12 anos ou mais de idade, por cor ou raça, segundo as regiões do Brasil. O que observa-se é que o rendimento médio mensal dos declarados bancos é quase 90% maior do que o rendimento médio dos trabalhadores pretos e partos, enquanto os brasileiros brancos, com 12 anos ou mais, recebem cerca de 3,4 salários mínimos, os brasileiros declarados pretos ou partos recebem 1,8 salários mínimos.
Figura 2 Rendimento médio mensal de todos os trabalhos, em salários mínimos, das pessoas de 12 anos ou mais de idade, com rendimento por cor ou raça, segundo as Grandes Regiões - 2007.
Fonte: Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE - 2008.
A importância do debate é instigar, refletiremos... O salário médio do negro é inferior ao do branco, como mostra a figura 2, porém os negros tem menor número de anos de estudos que os brancos, como observado no gráfico 1, logo, o fator determinante para o desnivelamento salarial entre negros e brancos não é a questão racial, e sim a questão social! Certo? Bom raciocínio. Nada mais. É determinante mais não é único fator.
Em dados de pesquisa do IBGE também, do ano de 2006, observa-se que ao analisar comparativamente negros e brancos com os mesmos anos de estudo, depara-se frontalmente com mais uma prova da segregação racial existente no Brasil. Segundo o levantamento realizado com base na Pesquisa Mensal de Emprego, os trabalhadores brancos com menos de um ano de estudo ganham em média 15% a mais que os negros do mesmo nível escolar. Já entre os que têm de 8 a 10 anos de estudo, a diferença sobe para 24%. A desigualdade é ainda maior para os brasileiros negros com formação superior, eles ganham em média, 48% a menos que os brancos. (REVISTA EDUCAÇÃO, 2006) Os dados comprovam um abismo racial em que vive a sociedade brasileira, que após o ponto de abolição praticamente nada executou para que o período escravista da sociedade brasileira não deixasse marcas. Ricardo Henriques, em seu trabalho intitulado: Desigualdade racial no Brasil: Evolução das condições de vida na década de 90, detalha minuciosamente a desigualdade racial existente no Brasil. Usando palavras do próprio Henriques, a estrutura da distribuição de renda brasileira traduz um nítido embranquecimento da riqueza e do bem-estar no país.
Figura 3 Distribuição da população por décimos de renda, segundo a cor - Brasil: 1999.Fonte: HENRIQUES, 2001. p. 18 .
Observemos que, no décimo de renda mais pobre da população (1), 70% são negros e 30% são brancos. Enquanto que no décimo de renda mais rico da população (10) aproximadamente 83% são brancos, ao passo que em torno de 17% são negros.
Depois disso tudo, ainda tem gente que fala: Sim? Eaí? Isso foi gerado pelo racismo em nossa sociedade? Isso é uma ocorrência histórica, que nada nos faz mal hoje...
Não foi gerado diretamente pelo racismo, mas, realmente, por fatores históricos, políticas públicas discriminatórias, ideologias de hierarquização de raças, implantação de ideologias racistas na sociedade, discriminação social no trabalho e em atendimentos públicos de saúde e educação. E o fato, é que hoje a sociedade brasileira é dividida desigual racialmente, e isso faz-se reproduzir os preconceitos e discriminações através da criação de estereótipos. Para explicar o que é estereótipo vou recorrer ao dicionário Houaiss, lá está assim: Imagem preconcebida de alguém ou algo, baseada num modelo ou generalização. Ou seja, como existe uma generalização, ou uma característica maior da sociedade, das pessoas pretas ou pardas serem 70% da população mais pobre do país, criam-se generalizações como citei anteriormente, daí surge o preconceito e a discriminação racial, mentalmente o racismo. Ou seja, a característica racial da desigualdade social gera e reproduz o racismo no Brasil.
E Deus? Onde fica, onde está? Sim. Como disse anteriormente a quem adianta ter fé e não ter oportunidades? Não ter condições de acesso a estudo, ou à estrutura social mínima. Ou ainda, por que pensar que a única solução é ter fé, a quem adianta?
Semana passada, vi na televisão que em uma pesquisa realizada pela fundação Perseu Abramo, foi perguntado qual o grupo social mais odiado pelos brasileiros, e... Pasmem! Os ateus, ou seja, as pessoas que não crêem em Deus foi o grupo social mais apontado. Eu corri para a internet e fui procurar a tal pesquisa.
Figura 4 Grau de aversão ou intolerância a grupos de pessoas
Fonte: Fundação Perseu Abramo (http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/index.php?storytopic=1773)Os ateus estão equiparados com usuários de drogas, 17% e 25%, respectivamente, têm repulsa/ódio e antipatia a ateus.
Depois que vi essa pesquisa me deu até um certo receio de declarar publicamente minha descrença na existência de um Deus. Posso perder amizades, criar inimizades, inimigos... E até despertar ódio nas pessoas!
Então, eu começo a refleti sobre os vários deuses que existem no mundo e os que existiram, o Deus sol, o Deus lua, a Chuva. Chove quando Deus quer!!! Hoje nós pensamos, “Égua! (bem paraense). Antes acreditavam em cada Deus, tudo era deus, até o sol era deus.” Quem sabe no futuro, caros leitores, as pessoas vão falar: "Égua, antes as pessoas acreditavam que tudo que existe foi um ser superior, chamado de Deus, que criou. Pode?"
Deus é uma criação do homem, hoje se acredita bem menos nele, pelo avanço significante da ciência. Foi a ciência que desmistificou a crença num Deus sol, por exemplo.
E sobre Religião. Não é mesma coisa que Deus? Quando se começa a persuadir um crente em Deus com argumentos ateístas ele fala logo que a tua crítica é quanto às religiões, os dogmas, as regras, e não para o grande Deus. Religião e Deus não são a mesma coisa, mas ambos se sustentam. Ou se as religiões não existissem, quem acreditaria que um Deus existe? É a religião que nos ensina isso. Então claro que estão ligados, Deus então, depende de religiões, religiões que plantam desigualdades, guerras e preconceitos no mundo, para existir. É só ler a Bíblia. As religiões plantam a fé no Deus também, então eles, religião e Deus, interdependem-se... E realmente quem acredita em Deus que tem que provar sua existência, ou crer fielmente sem saber, por que “a dúvida é o preço da pureza, e é inútil ter certeza". Porque só é feliz quem crer no Deus Maior. Né! Amém.
Conversa fantástica. Entre outros pontos de discussão e esclarecimentos. Ainda me falta aparato teórico para discutir e argumentar a respeito de deus e religiões, porém só com conversas e leituras vamos progredir...
Por Nairo Bentes