quarta-feira, 14 de março de 2012

Paradoxo na classe trabalhadora: Professores em greve e alunos prejudicados.


Quando se fala em greve de professores, não existe maior polêmica do que responder a questão: “e aí, como ficam os estudantes que infelizmente estudam em colégios públicos?”. Primeiramente, é oportuno dizer, não inventei esta frase da minha cabeça, a vi no facebook de um amigo, hoje, quando indagado por um aluno se este ano, 2012, teria greve novamente, uma aluna lançou este questionamento.
“Infelizmente.”
“Infelizmente.”
“infelizmente.”
Esse “infelizmente” ficou martelando a minha cabeça...
Do lado dos trabalhadores em educação, existe uma maneira simples de interpretar a necessidade de uma greve. Se, por exemplo, utilizarmos a situação atual para justificar uma greve. O governador Simão Jatene, se recusa a pagar o piso nacional do magistério estipulado por lei, hoje o equivalente a R$ 1451,00. Como o governador se recusa, os trabalhadores em educação, organizados, paralisam suas atividades para pressionar o governo a negociar e pagar o piso na sua integralidade. Governo e trabalhadores não entram em acordo, e a greve se prolonga...
“infelizmente.”
“infelizmente.”
“infelizmente.”
Os estudantes, em sua maioria, não acham a greve saudável, não que não concordem, eles até ‘entendem’ que os professores tem os seus direitos e tal... mas se sentem prejudicados pela paralisação  das atividades escolares. Embora, nas atividades do Sintepp apareçam alguns representantes de entidades estudantis, são apenas uma ‘vanguarda’ que não consegue esclarecer a base de suas ideias.
Alguns alunos questionam. Querem passar no vestibular. Estudar!
Alguns professores dizem que estes alunos 'questionadores' são os que menos querem assistir aula.
Alguns alunos dizem que os professores não pensam neles. Que os professores são vagabundos.
Os professores, quando retornam às atividades, ouvem dos alunos que não era pra greve ter acabado...
“Quando vai ter greve de novo professor?”
Os alunos perguntam pros professores se eles ganharam alguma coisa.
Alguns professores ficam pensando como vão dizer pros alunos aquilo que a vanguarda do sindicato lhes explicou: “Foi uma vitória política!”
Alguns professores grevam em casa. Isso enfraquece. Mais importante que a paralização das atividades, é o povo na rua.
Na verdade, todos deviam ir para a manifestação: professores, funcionários, alunos e pais.
Mas quem os conscientiza?
Os alunos entendem que a greve é só porque os professores querem aumentar os seus salários.
Como os alunos vão pra rua, se eles “infelizmente estudam em colégios públicos”?
“infelizmente.”
O governo se desgasta?
Um pouco.
A intenção era essa?
Acho que não.
O calendário atrasa?
Muito.
Oh, nobre revolucionário proletário! Quem é prejudicado, o Estado Burguês, a burguesia, ou a Classe Trabalhadora?
Resposta: Nossa ‘Classe em si’, justamente por ser ‘em si’. Pois se fosse ‘para si’, colocaria milhões de pessoas nas ruas, não haveria professor chamando aluno de vagabundo, nem aluno chamando professor de preguiçoso. Não haveria professor grevando em casa, e nem aluno torcendo para a greve não acabar.
Precisamos encontrar uma melhor maneira de nos organizar, não sem greve, mas, com uma consciência de classe que nos permita uma organização mais massiva e reflexiva.
Estando sempre abertos ao diálogo, deixem suas impressões.
Um abraço.
Prof. Nairo Bentes

Um comentário:

Anônimo disse...

Me parece q a problemática toda não está na análise "fim", mas sim na "gênese". A desvalorização da educação, suas instituições e profissionais ocorre porque, aparentemente, não gera retorno; não há concessionárias interessadas em administrar; não há os milhõe$ em licitações cujos 10% ou 20% de propina possam valer a pena.
Enquanto formos uma nação que só se preocupa em construir estádios de futebol; que se auto-administra pelo clientelismo e troca de favores, cujos interesses coletivos são preteridos pelos pessoais; onde superfaturar obras públicas é tão comum quanto comprar pão; onde o crescimento da corrupção só perde pro da impunidade; e onde investimentos sociais na educação são tão significativos quanto os investimentos em Ufologia... seremos um país miserável (não seria este o slogan do Governo Federal?).