Quando se fala em greve de
professores, não existe maior polêmica do que responder a questão: “e aí, como ficam os estudantes que infelizmente estudam em
colégios públicos?”. Primeiramente, é oportuno dizer, não inventei esta
frase da minha cabeça, a vi no facebook de um amigo, hoje, quando indagado por
um aluno se este ano, 2012, teria greve novamente, uma aluna lançou este
questionamento.
“Infelizmente.”
“Infelizmente.”
“infelizmente.”
Esse “infelizmente” ficou
martelando a minha cabeça...
Do lado dos trabalhadores em
educação, existe uma maneira simples de interpretar a necessidade de uma greve.
Se, por exemplo, utilizarmos a situação atual para justificar uma greve. O
governador Simão Jatene, se recusa a pagar o piso nacional do magistério
estipulado por lei, hoje o equivalente a R$ 1451,00. Como o governador se
recusa, os trabalhadores em educação, organizados, paralisam suas atividades
para pressionar o governo a negociar e pagar o piso na sua integralidade.
Governo e trabalhadores não entram em acordo, e a greve se prolonga...
“infelizmente.”
“infelizmente.”
“infelizmente.”
Os estudantes, em sua maioria,
não acham a greve saudável, não que não concordem, eles até ‘entendem’ que os
professores tem os seus direitos e tal... mas se sentem prejudicados pela
paralisação das atividades escolares.
Embora, nas atividades do Sintepp apareçam alguns representantes de entidades
estudantis, são apenas uma ‘vanguarda’ que não consegue esclarecer a base de
suas ideias.
Alguns alunos questionam. Querem
passar no vestibular. Estudar!
Alguns professores dizem que
estes alunos 'questionadores' são os que menos querem assistir aula.
Alguns alunos dizem que os
professores não pensam neles. Que os professores são vagabundos.
Os professores, quando retornam
às atividades, ouvem dos alunos que não era pra greve ter acabado...
“Quando vai ter greve de novo
professor?”
Os alunos perguntam pros
professores se eles ganharam alguma coisa.
Alguns professores ficam pensando
como vão dizer pros alunos aquilo que a vanguarda do sindicato lhes explicou:
“Foi uma vitória política!”
Alguns professores grevam em
casa. Isso enfraquece. Mais importante que a paralização das atividades, é o
povo na rua.
Na verdade, todos deviam ir para
a manifestação: professores, funcionários, alunos e pais.
Mas quem os conscientiza?
Os alunos entendem que a greve é
só porque os professores querem aumentar os seus salários.
Como os alunos vão pra rua, se
eles “infelizmente estudam em colégios públicos”?
“infelizmente.”
O governo se desgasta?
Um pouco.
A intenção era essa?
Acho que não.
O calendário atrasa?
Muito.
Oh, nobre revolucionário
proletário! Quem é prejudicado, o Estado Burguês, a burguesia, ou a Classe
Trabalhadora?
Resposta: Nossa ‘Classe em si’,
justamente por ser ‘em si’. Pois se fosse ‘para si’, colocaria milhões de
pessoas nas ruas, não haveria professor chamando aluno de vagabundo, nem aluno
chamando professor de preguiçoso. Não haveria professor grevando em casa, e nem
aluno torcendo para a greve não acabar.
Precisamos encontrar uma melhor
maneira de nos organizar, não sem greve, mas, com uma consciência de classe que
nos permita uma organização mais massiva e reflexiva.
Estando sempre abertos ao diálogo, deixem suas impressões.
Um abraço.
Prof. Nairo Bentes
Um comentário:
Me parece q a problemática toda não está na análise "fim", mas sim na "gênese". A desvalorização da educação, suas instituições e profissionais ocorre porque, aparentemente, não gera retorno; não há concessionárias interessadas em administrar; não há os milhõe$ em licitações cujos 10% ou 20% de propina possam valer a pena.
Enquanto formos uma nação que só se preocupa em construir estádios de futebol; que se auto-administra pelo clientelismo e troca de favores, cujos interesses coletivos são preteridos pelos pessoais; onde superfaturar obras públicas é tão comum quanto comprar pão; onde o crescimento da corrupção só perde pro da impunidade; e onde investimentos sociais na educação são tão significativos quanto os investimentos em Ufologia... seremos um país miserável (não seria este o slogan do Governo Federal?).
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