Outro
dia, planejando uma aula preliminar, na qual o objeto de estudo seria a Geometria, surgiu a curiosidade
de verificar qual seria a definição da palavra no dicionário, o que apareceu –
ou que estava disponível na nossa frente – era o “MiniAurélio-Escolar”. Pois
bem, passando o olho pelo dicionário, a definição encontrada foi a mais trivial
possível: “Ciência que investiga as
formas e dimensões dos seres matemáticos” (p.146). Mas, o que me chamou a
atenção ao “passar o olho” foi uma palavra próxima, “geossauro”, cuja definição
era: “Réptil crocodiliano especialmente
aquático; viveu no jurássico e no
cretáceo, e seus vestígios foram encontrados nos mares da Europa Central”.
(p.146)
Aí...
Um
estalo! (pá!)
Jurássico?
Dinossauros?
Como
será que esse dicionário define “deus”?
Eis:
“Deus: Ser infinito, perfeito, criador do
universo.”
¬¬
Então...?
Conclusão...
Seria
o Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, um crente!?
*
Calma, galera!
*
Aí,
eu fui procurar “Ateu”, pra ver o que
o Aurélio me dizia.
“Ateu: Que ou aquele que
não crê em Deus”. (p.72)
Aí
pensei: “Selado, o Aurélio é crente! ”
:p
E
então aparece um amigo meu, que é linguista, e me diz que as definições devem
ser dadas pela ótica de quem acredita, que o organizador de um dicionário não
manifesta suas ideologias nas definições. Mais ou menos isso que ele disse. Não
lembro.
Mas,
aquilo ficou martelando em minha cabeça, pois a própria definição de “ateu” aureliana
é uma definição deísta. Pois, se eu digo que alguém não crê em Deus, já estou
afirmando que existe aquele deus, e esse alguém não acredita nele, pensa
que ele é um mentiroso.
Ironias
à parte, poderia dizer que aquele que não crê em deus, é alguém que até admite
a existência desse ser super-supremo, todavia, não lhe estima valor de
transformação. Uma palavra melhor para representar essa definição seria “ímpio”.
Segundo o mesmo Aurelinho, ímpio: “Que não tem fé.”
Está
difícil crer que o Aurélio não escapa ideologias nestas definições.
Vamos
procurar “deísta”!
Achei
“deísmo”: “Sistema ou atitude dos que
rejeitam espécie de revelação divina, mas admitem a existência da divindade”. (p.206)”
\m/
Batata!
Chegamos a um parecer sobre o “Aurélio”. Ele utilizou a palavra “existência”
para definir “deísmo”, mas não a usou a mesma palavra para definir “ateu”.
"Ateísmo" é definido pelo Aurélio como: "Falta de crença em Deus." Por quê ele não disse: "O que não admite a existência de deus "? É...
"Ateísmo" é definido pelo Aurélio como: "Falta de crença em Deus." Por quê ele não disse: "O que não admite a existência de deus "? É...
O
MiniAurélio Escolar, leva em si uma ideologia, sim.
Calma,
galera, não acabou o texto!
Peguei
outro dicionário, o “Dicionário Junior – da Língua Portuguesa” de Geraldo
Mattos.
Fui
direto procurar a definição de “ateu”: “Que
não acredita na existência de Deus”. (p. 66)
Arrá! Perceberam a importância da palavra "existência" aí? Lembram a definição do “Aurélio”? “Aquele
que não crê em Deus”. Geraldo Mattos ainda completa que o antônimo de ateu
é crente, e define “Deus” como “Ser
infinito e perfeito, que existe sem ter sido criado” (p.198). Ora, o que
existe sem ter sido criado, outrora só pode ter sido inventado, não acham? Foi
sutil, mas foi. Geraldo Mattos também insere sutilmente sua ideologia em suas
definições. Nem fala em Universo.
E
pensar que por vezes acreditamos que até a globo é imparcial.
Não existe imparcialidade nem no dicionário.
*
Pra
finalizar, lembrei de uma música do Chico, Gente humilde, na qual em um dos
versos ele desenrola “E eu que não creio,
peço a deus por minha gente...”, exteriorizando que não crê, e que, quem
acredita, o faz quando convém, ou necessita, ou já não vê mais saída. Ou, nem acredita, realmente.
Um bom julho a todos!
As duas primeira imagens foram recolhidas da internet e estavam sem identificação de autoria, e a terceira, do taxista, é do meu amigo Brahim Darwich.
Boas
férias!
Boa
sorte!
Nairo
Bentes