É comum ouvir por aí, ou,
na verdade, agora é mais comum ler pelas redes: “Eu fiz a minha parte”. Com
aquela aparente sensação de satisfação pessoal e acomodação, de que se alguma coisa
ainda der errado, a culpa não é minha, pois, “eu fiz a minha parte”.
Ou seja: eu dei a minha contribuição. Não adiantou nada,
porque nada mudou. Mas, o que eu queria era criar uma imagem positiva. Se:
continua tudo como está; a culpa é dos outros. Eu tenho a consciência
tranquila: Fiz a minha parte.
Se o outro não quer fazer, o problema é dele, nós temos
que fazer a nossa parte.
Se nada mudar...
Quem queria que as coisas mudassem mesmo?
Eu? Eu não. Eu só queria dizer que eu fiz a minha parte.
E, caros leitores, qual o limite de nossa ação?
Vocês podem imaginar os mais diversos temas. A poluição
urbana por exemplo. Quem já não ouviu um discurso similar a esse: “Eu não jogo
lixo na rua, eu faço a minha parte. Se todo mundo fizesse a sua parte, a nossa
cidade não seria tão suja”.
Nos limitamos a fazer o que achamos que seja a nossa
parte. Como se o problema fosse resolvido com a simples decisão individual de
cada um, de não jogar lixo no chão. A decisão do indivíduo é individual, mas
ela não é construída de forma individualizada. Precisa de tomada de
consciência, de diálogo, de convencimento, de convergência de ideias, de
preocupações coletivas.
No exemplo do lixo, o “eu” de cada um deve pretender
manter o ambiente limpo para todos, e não para si somente. Logo, o seu limite
deve ser o convencimento dos outros de que aquilo é importante, convencê-los e
ajuda-los a fazer isso, e não fazer apenas a “sua parte”. Se preocupar com a
mudança e não apenas querer “pagar de certinho”.
Em um movimento de trabalhadores por melhorias, por
exemplo, é necessário que os trabalhadores participem das assembleias do
sindicato, das paralisações com atos públicos marcados. Porém, se comparecerem
poucas pessoas, ou pouquíssimas como vem acontecendo, o movimento não pega força.
Vale a lógica individualista de que eu faço a minha parte indo pra assembleia,
e se os outros não vão, o problema é deles. O problema é deles? Não. Não é!
Pois a assembleia se torna importante instrumento de deliberação e organização,
quando for bastante representativa: Quando o “outro” for. Ou seja, a
responsabilidade de cada um de nós, é que nossa assembleia dê quantidade de
gente suficiente para a organização da luta. E é uma responsabilidade coletiva,
pois não adianta cada um fazer o que acha que é a “sua parte”, nosso limite é
dialogar e, se possível, esclarecer e convencer os outros a fazerem “a parte
deles”, que é fazer e convencer os outros. Ou seja, se cada um fizer a sua
parte, que é, agora sim, “fazer e convencer”, não restará um, ou restarão
poucos, sem serem convencidos, logo, a fazer e convencer.
E aquela história que fala: “Se você quer que o mundo
mude, mude você mesmo.” É apenas uma estratégia de alguém para lhe convencer a
mudar, alguém que quer mudar o mundo, tá lhe convencendo a mudar também, a
pensar diferente. Se você quer mudar o mundo, melhorar o mundo, mude a cabeça
dos outros também, não apenas a sua.
E,
pra finalizar, acrescento um texto que postei nesta quarta no facebook, em
referência também à eleição de Trump nos Estados Unidos, mas principalmente aos
tempos temerários que vivemos:
Isso é a Democracia, só nos falta agir. A individualidade
do mundo nos faz questionar a escolha dos outros, mas quem tentou
esclarecê-los? Ou queremos que todos cheguem a belas conclusões esclarecidas e
progressistas sem diálogo? Sem troca? Acomodação nossa, e talvez até
egocentrismo e egoísmo de nos satisfazermos apenas com a nossa opinião
superinteligente e superdesconstruída, e ficar analisando o conservadorismo
alheio e criticando-os no facebook ou na mesa de bar de forma que não os faça
desconstruir suas verdades.
O cartum é do meu amigo, Prof. Brahim Darwich, que já é
um coautor de alguns textos deste blog, contribuindo com a criatividade de seus
cartuns. Esse também é exclusivo, feito especialmente para essa reflexão do
blog.
Comentem aqui no blog!
Até logo!
Um abraço!
Prof. Nairo Bentes