quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Título: Eu ia colocar texto hipócrita, mas ficou: “Qual é a sua parte?”


É comum ouvir por aí, ou, na verdade, agora é mais comum ler pelas redes: “Eu fiz a minha parte”. Com aquela aparente sensação de satisfação pessoal e acomodação, de que se alguma coisa ainda der errado, a culpa não é minha, pois, “eu fiz a minha parte”.
            Ou seja: eu dei a minha contribuição. Não adiantou nada, porque nada mudou. Mas, o que eu queria era criar uma imagem positiva. Se: continua tudo como está; a culpa é dos outros. Eu tenho a consciência tranquila: Fiz a minha parte.
            Se o outro não quer fazer, o problema é dele, nós temos que fazer a nossa parte.
            Se nada mudar...
            Quem queria que as coisas mudassem mesmo?
            Eu? Eu não. Eu só queria dizer que eu fiz a minha parte.
            E, caros leitores, qual o limite de nossa ação?
            Vocês podem imaginar os mais diversos temas. A poluição urbana por exemplo. Quem já não ouviu um discurso similar a esse: “Eu não jogo lixo na rua, eu faço a minha parte. Se todo mundo fizesse a sua parte, a nossa cidade não seria tão suja”.
            Nos limitamos a fazer o que achamos que seja a nossa parte. Como se o problema fosse resolvido com a simples decisão individual de cada um, de não jogar lixo no chão. A decisão do indivíduo é individual, mas ela não é construída de forma individualizada. Precisa de tomada de consciência, de diálogo, de convencimento, de convergência de ideias, de preocupações coletivas.
            No exemplo do lixo, o “eu” de cada um deve pretender manter o ambiente limpo para todos, e não para si somente. Logo, o seu limite deve ser o convencimento dos outros de que aquilo é importante, convencê-los e ajuda-los a fazer isso, e não fazer apenas a “sua parte”. Se preocupar com a mudança e não apenas querer “pagar de certinho”.
            Em um movimento de trabalhadores por melhorias, por exemplo, é necessário que os trabalhadores participem das assembleias do sindicato, das paralisações com atos públicos marcados. Porém, se comparecerem poucas pessoas, ou pouquíssimas como vem acontecendo, o movimento não pega força. Vale a lógica individualista de que eu faço a minha parte indo pra assembleia, e se os outros não vão, o problema é deles. O problema é deles? Não. Não é! Pois a assembleia se torna importante instrumento de deliberação e organização, quando for bastante representativa: Quando o “outro” for. Ou seja, a responsabilidade de cada um de nós, é que nossa assembleia dê quantidade de gente suficiente para a organização da luta. E é uma responsabilidade coletiva, pois não adianta cada um fazer o que acha que é a “sua parte”, nosso limite é dialogar e, se possível, esclarecer e convencer os outros a fazerem “a parte deles”, que é fazer e convencer os outros. Ou seja, se cada um fizer a sua parte, que é, agora sim, “fazer e convencer”, não restará um, ou restarão poucos, sem serem convencidos, logo, a fazer e convencer.
            E aquela história que fala: “Se você quer que o mundo mude, mude você mesmo.” É apenas uma estratégia de alguém para lhe convencer a mudar, alguém que quer mudar o mundo, tá lhe convencendo a mudar também, a pensar diferente. Se você quer mudar o mundo, melhorar o mundo, mude a cabeça dos outros também, não apenas a sua.
E, pra finalizar, acrescento um texto que postei nesta quarta no facebook, em referência também à eleição de Trump nos Estados Unidos, mas principalmente aos tempos temerários que vivemos:
            Isso é a Democracia, só nos falta agir. A individualidade do mundo nos faz questionar a escolha dos outros, mas quem tentou esclarecê-los? Ou queremos que todos cheguem a belas conclusões esclarecidas e progressistas sem diálogo? Sem troca? Acomodação nossa, e talvez até egocentrismo e egoísmo de nos satisfazermos apenas com a nossa opinião superinteligente e superdesconstruída, e ficar analisando o conservadorismo alheio e criticando-os no facebook ou na mesa de bar de forma que não os faça desconstruir suas verdades.
            O cartum é do meu amigo, Prof. Brahim Darwich, que já é um coautor de alguns textos deste blog, contribuindo com a criatividade de seus cartuns. Esse também é exclusivo, feito especialmente para essa reflexão do blog.
            Comentem aqui no blog!
            Até logo!
            Um abraço!
            Prof. Nairo Bentes

 


Um comentário:

Unknown disse...

O individualismo nos separar e cada um achar que está fazendo sua parte, mas precisamos fazee mais!
Otimo texto professor Nairo