Mais um texto do meu amigo Felipov. Retirado do Blog eu-lírico da tabacaria.
Um bom domingo.
Nairo Bentes
A vida vem se definindo. Ao meu redor, vejo a vida se definindo. Encaminhando-se. Vejo a vida se concretizar. A vida se movimentando. De tal modo, que, em alguma medida, isso me assusta. Pois, apenas, observo. E nada faço. Nada mais interventivo e efetivo. Tenho pensando muito esses tempos sobre questões da existência. E não sei o que fazer. Essa desorientação me atordoa. E a vida vai se definindo. E eu parado. Inerte e inútil. Saio nas ruas e sinto o pulsar dos transeuntes, dos carros, do barulho, do calor. O suor que escorre no meu rosto. O sol queimando. A sede. O arrependimento de ter saido de casa. As pessoas que esbarram e não pedem desculpa. Nem por favor e obrigado. É muito embrutecimento. As ruas fedem a medo e alegria. Ando com receio de ser assaltado e perder a vida. Vejo as pessoas lerem jornais nas páginas policiais. Não interessa a política econômica do governo e os seus reflexos no feijão de todo dia. A inflação. O aumento dos impostos. A violência é mais importante. Quantos morreram, facada, sangue. Bandido bom é bandido morto. É um espetáculo de carnificina, escrita e televisionada. A morte é audiência do dia. O dinheiro me falta. E eu, infelizmente, preciso dele. O aluguel atrasado, contas por pagar. Ou pensas que para eu estar aqui pensando e reclamando é barato. É caro. E degrada o ambiente. Tudo é degradante, ofensivo e pernicioso. A politica é risível de tão escandalosamente absurda. Com os rendimentos de um deputado, tiraríamos muitas crianças da miséria. Com o dinheiro da corrupção, aposentados, professores e todos aqueles que vivem de salário conseguiriam ter uma vida digna. Dignidade tornou-se algo de classe, apenas destinada aos abastados e bem nascidos. A justiça tornou-se uma mercadoria. A democracia agora é plutocrática. A cidadania é a obrigação de comparecer nas urnas, votar nos próximos usurpadores. A descrença me invade. Por conta da razão. O intelecto me faz pessimista. No entanto, tenho uma esperança. A esperança equilibrista de que o extraordinário torne-se cotidiano. Que a vida se defina pela fraternidade, liberdade e igualdade - reais, amplas e irrestritas, e não, abstratas e formais como fora na Revolução Francesa. Que a vida como conhecemos seja apenas, no futuro, a letra de um samba triste, que passou e não deixou saudade. Que passou. Que passará. Que se definirá. Vida futura nos te definiremos mais humana e plena.
(Felipov)
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